SINAPRO/PR – Sindicato das Agências de Propaganda do Paraná

Os Billenials Por Lusa Silvestre

A geração que nunca comeu peito de frango

É Millenials pra cá, Millenials pra lá, só se fala neles. Os publicitários penduram e badalam neles, o Netflix faz série pensando neles, os sociólogos escrevem doutorados sobre eles, o Facebook inventou um algoritmo (de última hora!) só pra eles. Millenials: aquela rapaziada que já nasceu digital e passa dois terços da vida no whatsapp (o outro terço é dormindo em cima do Iphone). São mimados, empoderados, perfumados. Pra situar em termos de idade, os Millenials têm uns vinte anos – mas isso varia. Já se fala dos Millenials faz um tempo. Não é, tipo, uma grande novidade.

A grande novidade são os pais dos Millenials. Vamos chamar de Billenials – na falta de um algarismo melhor. Têm entre 40 e 50 anos, dependendo da idade em que começaram a acasalar. É uma geração que envelhece sem envelhecer; basta ver as academias. São milhares de coroas-macho e coroas-fêmea trabalhados no formol, exercitando os glúteos diariamente. Comparada à geração anterior (Trillenials?), a diferença é berrante. Você vai ver uma foto do vovô com a sua idade, e vovô parece uma pirâmide.

E, veja: os Billenials não são só coroas gostosos. A forma física também é disposição física. E quando se junta vontade com experiência, rapaz, temos uma máquina de guerra a serviço da humanidade. Veja Cate Blanchett, por exemplo. Faz inacreditáveis 48 anos semana que vem (vai ter bolo) – e continua sendo uma das atrizes mais requisitadas do planeta. Ostenta dois Oscars na prateleira, e aparenta ter condições de disputar pelo menos mais uns dez. Alguém duvida que Cate ainda tem sangue no zóio, aqueles monumentais zóios caribenhos?

Além de capacitados, os Billenials são judiados. São sacudidos. Pegaram uma entressafra de gerações que os deixou preparados para a briga. Explico: quando moleques, os Billenials se acostumaram a deixar o peito do frango para o pai deles. Era a melhor parte da ave e portanto tinha que ficar com o patriarca – que trabalhava duro, que era o arrimo, o pilar da casa. Aí, anos depois, o Billenial também virava pai. Que felicidade: tinha chegado a sua vez de comer peito de frango – só que não. Na nova economia, o peito vai pro filho. Fué. Que precisa crescer, que não pode ter trauma, que vai estudar em Londres. Resumindo: o Billenial nunca pegou carne nobre – e por isso mesmo, não tem frescura pra comer tripa.

Vão morrer com 95 anos, os Billenials. O quê? Mas pode apostar. A gente já está dando rolê em Saturno – imagine o que a tecnologia vai fazer pela saúde do povo. A questão primordial não é mais o tempo de vida, quanto tempo os Billenials vão durar – e sim o que vão fazer até lá. Pense: se o coroa saiu da faculdade aos vinte e dois, terá paciência para continuar na mesma profissão outros setenta anos (já que aposentadoria só depois de morrer)? Ah, duvido. Eles já viveram duzentas crises. De 1970 pra cá foram seis moedas diferentes. E aprenderam a se movimentar, a buscar uma saída. Têm a saúde e a capacitação para mandar tudo para a cucuia e tentar outra coisa. Topam encrenca, topam mudança. Quem nunca comeu peito de frango está acostumado a roer osso.

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