SINAPRO/PR – Sindicato das Agências de Propaganda do Paraná

Aroldo Murá escreve sobre Norberto Castilho

MEMÓRIA: COM CASTILHO, FOI-SE UMA ÉPOCA

No jantar do Ile de France, com John dos Passos, uma noite excepcional.

Sábado, 9, Walter Schmidt, o sempre atento redator do site Contraponto, a boa cobertura do que acontece no Paraná, me telefona falando da morte de Norberto Castilho. Depois, encontro no site de Fábio Campana a mesma  notícia, com o olhar apurado do jornalista que também conheceu Castilho.

No meio do noticiário, parei para examinar uma verdade: com o desaparecimento de Norberto Castilho foi-se uma das mais significativas partes de toda uma geração de curitibanos que era acolhida regiamente pelo colunismo social dos anos  1960/80, especialmente pelo insubstituível Dino Almeida. Eram homens e mulheres que acabavam sendo as locomotivas do “high society”, em que ainda não prevaleciam nomes de emergentes, mas sobretudo curitibanos com raízes fortes na cidade. Mas Castilho era muito mais dos que um ícone daquele mundo da alta roda.

ALÉM DOS “GOSSIPS”

Por dever de justiça, tenho de dizer que o brilho de Castilho ia muito além dos gossips e dos fulgores da chamada alta sociedade, um universo que sempre encantou a classe média alimentada pelos jornalões daqueles dias, como Diário do Paraná, por primeiro, O estado do Paraná, a Gazeta do Povo. Não posso esquecer O Dia, que nos 1960 vivia seus derradeiros momentos, e onde reinava o Marcel Leite com seu Raio X da sociedade Curitibana.

Claro que ao colocar Norberto Castilho nessa relação de socialites de intenso fulgor na vida paranaense, tento não  omitir outros nomes que faziam companhia a ele e a sua mulher, Gilka Castilho, relação em que aparecem obrigatoriamente: Marcus e Many Hauer, os Weber, João Elísio Ferraz de Campos e Tina (primeira esposa), Abdo Abage e Ironita, Bento Munhoz da Rocha e dona Flora, Suzana Munhoz da Rocha e Beco Guimarães, Agostinho Hauer e  Maria José (Sade) Hauer, Rubens Arles Bettega e Tereza, José Eduardo de Andrade Vieira e Tânia (primeira esposa) , Geroldo e Marli Hauer…

JOHN DOS PASSOS        

Tenho bem fresco na memória o meu primeiro e inesquecível encontro com Norberto Castilho, oito anos mais velho que eu, em 1962, quando ele foi à redação do Diário do Paraná e me convidou para o acompanhar, na noite seguinte, num jantar no Ile de France. Para um jovem  repórter, com dinheiro curtíssimo, alimentado a vales do prestimoso Milton Alcântara – tesoureiro do DP -,  foi uma choque.

O surpreendente viria com a explicação seguinte: “Aroldo, vamos jantar com o John dos Passos”.  O susto foi então   ainda maior. Ao mesmo tempo, envaideci-me, com a “vanitas vanitatum” da juventude, ao ter meu ego inflado: afinal, Castilho nem precisara entrar em detalhes sobre John dos Passos.

O jornalista, publicitário, advogado e gentleman Castilho me tinha por alfabetizado em literatura básica. Por vezes lera artigos meus no DP e, antes, na histórica revista Club, do Dino Almeida, da qual chegue a ser secretário e escrevi textos sobre literatura contemporânea. Eu havia escrito sobre Passos, o neto de portugueses que ganhara o Prêmio Nobel de Literatura.

UM FIDALGO, GENTLEMAN        

Castilho era assim: um  fidalgo, com o foi ao fazer-me o convite, que aceitei receoso. Afinal, eu  apenas engatinhava no Inglês, o qual estudo há 55 anos. Ele vinha de uma família muito bem situada (o pai, Arno, era sólido investidor na Bolsa) e tinha o cheiro de dinheiro velho e do velho Paraná, aquele tipo de finesse que não se exibe em hipótese nenhuma, não humilha, jamais conta grandezas, impõe-se sem destruir. Para essa gente “racé”  não existe fofoca, preceito que Norberto vivia plenamente.

O jantar rendeu algum texto, muito aquém da importância das declarações do autor de “Manhattan Transfer”. O escritor tinha vindo a Curitiba por uma “simples” razão: conhecer o editor (Oscar De Plácido e Silva) e a Editora Guaíra, que o editava em língua portuguesa.

De qualquer forma, Castilho, com sabedoria e discrição, procurando não me abespinhar, foi complementando, depois, a reportagem feita com  auxílio de um gravador enorme, colocado sobre a mesa do Ile. Fez raras correções. Deu lição de como mestre deve ensinar com prudência e plantando em terra que já considerava boa…

O EMPRESÁRIO

Ao longo dos anos fui acompanhando Castilho pelas estradas de uma carreira empresarial e de comunicador bem sucedido: lembro-me dele na Assessoria de Imprensa de Ney Braga, primeiro governo, depois como raro iniciador de publicitários na sua Equipe Propaganda, onde se revelariam, dentre outros, Norton Macedo (redator) e Sergio Mercer (diretor). Redator formado nos tempos de uma escola de Direito referencial e fiel ao clássico (cultivo do latim, por exemplo), sei que não poucas vezes ele escreveu pronunciamentos de Ney Braga, tarefa que foi também de meu mestre Antonio Brunetti e de Samuel Guimarães da Costa.

Das marcas mais fortes deixadas pelo publicitário Castilho acho que foi a composição da correta imagem do Paraná a partir dos anos 1960, com o nascimento da televisão entre nós, e a intensa propaganda estatal promovida pelo Banestado.